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Uma década de Solve for Tomorrow Brasil: relembre as três primeiras edições

Uma década de Solve for Tomorrow Brasil: relembre as três primeiras edições

Flávia Siqueira
21/09/2023
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Em 2023, o Solve for Tomorrow Brasil comemora seus dez anos. Veja destaques das três primeiras edições e confira o relato de uma professora que viu, na prática, o potencial transformador da aprendizagem baseada em projetos.

Navegue pelo Especial de 10 Anos:

1 Uma década de Solve for Tomorrow Brasil: relembre as três primeiras edições
2 Edições de 2017, 2018 e 2019: aprimoramento, diálogo com a BNCC e abordagem STEM
3 O Solve for Tomorrow Brasil a partir de 2020: mentoria, integração e diversidade

Criado em 2010 nos Estados Unidos, o Solve for Tomorrow – programa global de cidadania corporativa da Samsung – chegou ao Brasil em 2014, quando foi levado também a outros seis países da América Latina: Argentina, Chile, Colômbia, Panamá, Peru e México. O programa tem como objetivo estimular jovens estudantes a identificar desafios reais nas localidades em que vivem e propor, por meio de projetos, soluções baseadas na abordagem STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Em 2023, o Solve for Tomorrow está presente em 65 países, sendo 19 deles na América Latina, informa Helvio Kanamaru, Diretor de Cidadania Corporativa e ESG da Samsung para a América Latina.

“Em dez anos de atuação no Brasil, o Solve For Tomorrow tem sido uma ferramenta de estímulo à ciência e à pesquisa para alunos e professores do ensino público em todos os estados do país. Essa é uma importante iniciativa para que esses jovens estudantes desenvolvam suas habilidades e encontrem novas oportunidades de aplicar na prática o que aprendem em sala de aula. Além disso, a criatividade que eles colocam nas soluções apresentadas no programa são de grande valia para atender às necessidades e demandas da comunidade em termos de saúde, educação e, principalmente, sustentabilidade, sempre olhando para a realidade e para os desafios locais”, afirma Helvio.

No Brasil, ainda em 2014, o Cenpec foi o parceiro selecionado pela Samsung para a implementação e coordenação geral do programa. Ana Cecília Chaves Arruda – especialista do Cenpec que trabalhou em todas as edições do programa até 2022, da execução técnica à coordenação – conta que o principal objetivo na época era adequar a iniciativa ao contexto brasileiro, marcado pela heterogeneidade e diversidade de realidades educacionais. A essa preocupação se somou o compromisso com a promoção da equidade e da qualidade na educação brasileira, o que explica o foco do programa na rede pública de ensino e seus esforços para garantir, todos os anos, a participação de escolas de todas as regiões do país.

O programa possui três níveis de resolução de problemas: Reformulação, Ideação e Realização. No primeiro nível, de Reformulação, é fundamental identificar de maneira clara qual problema será trabalhado. No nível de Ideação, as equipes precisam identificar os recursos (intelectuais e materiais) para ajustar e desenvolver ainda mais suas propostas. Por fim, na Realização, a proposta vai amadurecendo por meio de um processo constante de tentativa e ajustes.

Desde seu princípio, a Samsung estabeleceu importantes alianças de apoio ao programa a fim de oferecer um processo formativo consistente às redes públicas de ensino. A edição brasileira do Solve For Tomorrow conta com uma rede de parceiros, como a representação no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO no Brasil), o Todos pela Educação e a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), além do apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

Confira, a seguir, um resumo e os destaques das três primeiras edições do Solve for Tomorrow Brasil (2014, 2015 e 2016), seguidos pelo relato da professora Ayanda Lima, responsável pelo projeto premiado como Grande Vencedor na segunda edição do programa (2015).

 
2014: 1ª edição

Projetos inscritos: 364

Escolas cadastradas: 431

Professores(as) cadastrados(as): 1.379

Estudantes inscritos(as): 8.390

Definições iniciais e foco em sustentabilidade

No Brasil, o Solve for Tomorrow inicialmente recebeu o nome de Prêmio Respostas para o Amanhã e apostou no reconhecimento de práticas educativas. Na primeira edição, o foco estava em estruturar as ações de divulgação, mobilização, formação e avaliação – que seriam aprimoradas ao longo das edições seguintes.

Os(As) docentes foram convidados(as) a inscrever práticas, com foco em sustentabilidade, que mobilizassem uma sala inteira de Ensino Médio. Sob orientação de um professor ou professora, os(as) jovens precisavam fazer o exercício de olhar para o território, identificar uma situação-problema e pensar em propostas de melhoria com base no currículo que estava sendo trabalhado em sala de aula.

Olhando hoje para esse formato inicial, Ana Cecília avalia que o programa ajudou muitas escolas a perceberem que fazer ciência é possível, mesmo sem um laboratório equipado. “O próprio território pode ser um campo de experimentação. Tivemos muitas inscrições de escolas rurais e indígenas, instituições de ensino que não eram as que tradicionalmente participavam de olimpíadas e outras competições de ciências.”

Ainda em 2014, as ações e os aprendizados da primeira edição foram sistematizados em um e-book (PDF).

Projetos vencedores da 1ª edição (2014):

Grande Vencedor
Equilíbrio – para uma inclusão sustentável e um meio ambiente melhor
Prof. Ivanês Oliveira Alexandrino
Escola Estadual Tristão de Barros Ensino Fundamental e Médio
Currais Novos (RN)

O acúmulo de lixo eletrônico sem descarte adequado e a dificuldade de locomoção de pessoas com deficiência visual e física, devido à falta de materiais próprios, foram as preocupações que deram origem ao projeto. Com base em pesquisa realizada com a comunidade local, a ideia da turma foi a de reaproveitar os resíduos eletrônicos para construir próteses e protótipos que possibilitassem mais acessibilidade para as pessoas com deficiência.

Vencedor pelo Júri Popular
Ecofiltro: carvão ativado do pecíolo da folha da carnaúba (Copernica prunifera sp) para o tratamento d’água da nossa região
Prof. Pedro Paulo Ferro Júnior
Escola de Ensino Médio Murilo Braga
Martinópole (CE)

O projeto traz como proposta utilizar a carnaúba, recurso natural encontrado na região, para construir filtros ecológicos e tratar a água. Para viabilizar o projeto, os estudantes recorreram aos professores de Matemática e Biologia e realizaram pesquisas de campo com a comunidade, atuando diretamente na conscientização sobre os cuidados com a água.

2015: 2ª edição

Projetos inscritos: 720

Escolas cadastradas: 460

Professores(as) cadastrados(as): 1.242

Estudantes inscritos(as): 19.026

Aprimoramento das estratégias e criação do “Mochilão”

A partir dos aprendizados obtidos com a primeira edição, a equipe do programa aprimorou seus conteúdos e estratégias formativas. Além de um percurso formativo para docentes, o prêmio passou a contar com um espaço de conteúdos para os(as) estudantes, chamado de “Trilha do Aluno”.

Foi criado também o “Mochilão”, um ambiente de portfólio digital para os(as) estudantes inscritos(as) voltado ao registro colaborativo das etapas de cada projeto, com fotos, vídeos, depoimentos e anotações. A atividade de registro foi mantida nas edições seguintes do programa, dando origem ao Diário de Bordo.

Projetos vencedores da 2ª edição (2015):

Grande Vencedor
Avaliação da atividade da moringa oleífera no tratamento da água na zona rural
Profª Ayanda Ferreira Nascimento Lima
Colégio Estadual Dom Veloso
Itumbiara (GO)

Melhorar a saúde pública da zona rural de Itumbiara no combate a parasitoses causada pelo consumo de água não tratada foi a proposta do projeto. Por meio da experimentação científica, os alunos identificaram o potencial antimicrobiano das sementes da moringa oleífera, validando sua eficácia na redução de bactérias presentes na água.

Vencedor pelo Júri Popular
Reutilização do pó da madeira em forro acústico em tetos de serrarias
Prof. Ivanês Oliveira Alexandrino
EE Tristao de Barros Ensino Fundamental e Médio
Currais Novos (RN)

O impacto ambiental do grande número de serrarias foi o que mobilizou os alunos a desenvolverem um projeto que transformasse o pó de serra em bloquetes prensados para serem utilizados como forro isolante acústico e térmico no teto das próprias serrarias. Além dos bloquetes de madeira, os alunos criaram o “siroco”, aspirador adaptado que retém o pó no ato da serragem.

2016: 3ª edição

Projetos inscritos: 2.173

Escolas cadastradas: 1.477

Professores(as) cadastrados(as): 1.843

Estudantes inscritos(as): 37.007

Consolidação e criação do curso “Aprender por Projetos”

Na terceira edição do Solve for Tomorrow Brasil, o reforço das ações de mobilização e divulgação resultou no aumento expressivo nos números de projetos inscritos e equipes participantes. Houve melhoria dos ambientes virtuais e gamificação do “Mochilão”.

Ao longo de 2016 também foi desenvolvido o primeiro curso oferecido pelo site do Solve for Tomorrow Brasil: “Aprender por Projetos”, disponibilizado no ano seguinte a todos(as) os(as) educadores(as) interessados(as), de forma gratuita e com emissão de certificado. O curso traz uma concepção de ensino e aprendizagem que amplia a autonomia dos alunos e alunas na realização de pesquisas e investigações, articulando teoria e prática na busca de soluções para problemas reais.

O programa vem incrementando a oferta de formações ao longo dos anos, amplificando também a mentoria com voluntários(as) da Samsung, assim como sistematizando as metodologias inovadoras criadas pelos(as) próprios(as) professores(as) da rede pública, a fim de disseminar essas práticas para toda a rede de ensino.

Projetos vencedores da 3ª edição (2016):

Grande Vencedor
Implantação do cultivo de palmito juçara e pupunha pela cooperativa dos alunos, para reflorestamento de mata atlântica e geração de renda para a aldeia indígena Itapuã - Tupi Guarany no Vale do Ribeira - SP
Prof. Paulo Bezerra da Silva Neto
ETEC Eng. Agrônomo Narciso de Medeiros
Iguape (SP)

O projeto visou a geração de renda para os indígenas da aldeia Itapuã – Tupi Guarany no Vale do Ribeira a partir do cultivo e da comercialização de palmitos pupunha e juçara. Foi proposto o manejo sustentável dos palmitos como meio de subsistência e preservação das áreas desmatadas da aldeia.

Vencedor pelo Júri Popular
Sistema de filtragem e beneficiamento de água cinza para produção sustentável de alimentos
Prof. Marcos Deames Araújo Silva
EEEP Guilherme Teles Gouveia
Granja (CE)

Como forma de melhorar a qualidade da água reaproveitada, o projeto se propôs a criar um sistema de filtragem da água cinza (água residual do uso doméstico). Os estudantes produziram um filtro de manta sintética acoplado a uma bomba movida a energia solar com capacidade de retirar impurezas e gorduras, tornando a água adequada para o cultivo de vegetais por meio da irrigação por gotejamento.

 

Relato - Professora Ayanda Lima, de Itumbiara (GO): contra a apatia, o olhar atento para a realidade

Ayanda Ferreira
Ayanda Lima, professora de Biologia em Itumbiara (GO)

Uma turma apática, com estudantes desinteressados(as) pelos conteúdos e atividades que os(as) professores(as) propunham em sala de aula – o desafio que Ayanda Lima e outros(as) docentes do Colégio Estadual Dom Veloso, em Itumbiara (GO), encontraram em 2015, diante de uma turma do segundo ano do Ensino Médio, é um velho conhecido para a maioria dos(as) educadores(as) brasileiros.

Contrariando as apostas mais pessimistas, no entanto, uma mudança profunda de relação com a escola e o conhecimento começou a tomar forma quando Ayanda percebeu o interesse genuíno dos(as) estudantes por uma questão que afetava a comunidade: colegas moradores(as) da área rural estavam faltando à escola por estarem doentes, com parasitoses. Que doenças eram essas? Qual era a causa? Será que o problema estava na água? Algo poderia ser feito para ajudar?

“Essa turma desafiou toda a escola. Problemas de indisciplina são comuns, mas nesse caso era falta de interesse, apatia, e é muito difícil trabalhar com uma sala que parece não ter interesse em nada. Para os professores, é um desafio enorme”, relata a docente. “Até que surgiu esse debate sobre o que estava deixando os colegas doentes. O interesse partiu da própria turma, em torno de uma questão que afetava pessoas com quem eles estavam convivendo.”

Ayanda conta que o fato de os(as) estudantes vivenciarem o problema, que agora estava sendo debatido em aula, “deu um clique”. Aquele foi o ponto de virada para que a turma substituísse a habitual apatia pela vontade de investigar a situação e fazer diferença. Professora e estudantes passaram a estudar o problema e buscar uma forma de tratamento de água que não utilizasse produtos industrializados. Assim, nasceu o projeto Avaliação da atividade da moringa oleífera no tratamento da água na zona rural.

“Acredito que esse despertar aconteceu porque era uma questão que a turma estava vivenciando, e estar envolvido no processo gera mais aprendizado”, avalia Ayanda. O projeto acabou envolvendo outras disciplinas e, depois de ser apresentado em uma feira científica na escola, participou de premiações como o Solve for Tomorrow Brasil. 

 

“Há muitos alunos que, por mais que você diga que eles são capazes, não acreditam em si mesmos”, conta a professora. “Mas quando há esse reconhecimento de outras pessoas, de fora da escola, o impacto é muito positivo. Quando há essa possibilidade de trocas, de conversar com pessoas de outros lugares, de viajar por causa de um projeto do qual eles participam, o mundo se abre para esses estudantes. É incrível.”

 

A voz da sala de aula

Ouça o que diz a professora Ayanda Lima sobre a aprendizagem baseada em projetos, fomentada pela proposta do Solve for Tomorrow Brasil:

Hoje, o Colégio Estadual Dom Veloso mantém a cultura de trabalho por projetos e interdisciplinaridade. O contato com a ciência e a tecnologia, conta Ayanda, estimulou muitos estudantes a ingressarem no ensino superior e optarem por essas áreas – inclusive alunos e alunas da turma que, antes considerada apática, mostrou ao país que em Itumbiara (GO) se faz ciência já na educação básica.

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1 Uma década de Solve for Tomorrow Brasil: relembre as três primeiras edições
2 Edições de 2017, 2018 e 2019: aprimoramento, diálogo com a BNCC e abordagem STEM
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Saiba mais sobre todas as edições do Solve for Tomorrow Brasil.

TAGS: Prêmio Experimentação Metodologia de Projetos Prática Educativa Inovação