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Gestor

O papel da gestão escolar em projetos STEM

O envolvimento da comunidade escolar em processos de escuta e debates acerca das decisões tomadas é um dos pressupostos que caracterizam uma gestão escolar democrática. Esse movimento permite que gestores identifiquem com maior amplitude os problemas e necessidades da escola, considerando suas especificidades político-pedagógicas e os interesses das famílias, docentes, estudantes e de todos os funcionários que contribuem para a manutenção da instituição.

Tradicionalmente, estudos sobre a atuação do diretor de escola restringem a ação administrativa, cindindo as atividades escolares em administrativas e pedagógicas, como se o administrativo e o pedagógico não pudessem coexistir em uma mesma ação (Paro, 2010). Mas é importante que uma gestão que tem como fim o processo de ensino-aprendizagem reconheça e valorize a dimensão pedagógica do seu fazer cotidiano . Ainda assim, sabemos que o papel de gestores escolares envolve uma grande carga de burocracia – como estabelecer agendas, planejamentos, alinhamentos com base em documentos oficiais, controle do patrimônio e transparência no uso dos recursos. Além de orquestrar todas essas frentes, também há a preocupação com a formação continuada da equipe pedagógica, que atualmente inclui temas como a implementação dos novos currículos, desenvolvidos à luz da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e o Novo Ensino Médio. A formação continuada, em geral, fica sob a responsabilidade da coordenação pedagógica que, juntamente com o diretor ou a diretora da escola, compõe uma dupla gestora.

Diversas possibilidades, como o estímulo e o apoio ao corpo docente para a participação em olimpíadas acadêmicas e outras premiações, feiras de ciência e o desenvolvimento de projetos de inovação, acabam ficando em segundo plano diante de tantas demandas. Mas o enfrentamento dos desafios da gestão, agravados pelo acirramento das desigualdades no contexto da pandemia, também aponta para a urgência de uma reconstrução criativa na escola, comprometida com os interesses dos estudantes e com os dilemas do mundo contemporâneo. Nesse sentido, o programa Solve for Tomorrow propõe um olhar de sinergia entre suas ações e o exercício de uma gestão escolar democrática.

O programa visa fomentar o desenvolvimento e reconhecer projetos STEM (que integram as áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) no Ensino Médio de escolas públicas brasileiras. Tal iniciativa estabelece um ponto de encontro entre os desafios da gestão e as possibilidades para o seu enfrentamento, pois, entre outros benefícios, endereça alguns aspectos que fazem parte da estrutura dos novos currículos e do Novo Ensino Médio.

A abordagem STEM, um passo além no trabalho por projetos

STEM é um acrônimo, uma palavra formada pela junção das iniciais das palavras, da língua inglesa, Science (Ciências), Technology (Tecnologia), Engineer (Engenharia) e Mathematics (Matemática). É comum encontrar na literatura referências que citam a "metodologia" STEM, mas quando aprofundamos nosso conhecimento sobre o tema, percebemos que a afirmação é um equívoco. O termo STEM pode ser empregado em diferentes contextos, como para abordar os desafios de atrair jovens para seguirem carreiras nestas áreas – inclusive, essa foi a primeira forma de aplicação do acrônimo, inicialmente nos Estados Unidos, durante os anos 80 do século passado (Bacich e Holanda, 2020). Essa preocupação gerou então um movimento educacional que se transformou ao longo das últimas décadas e hoje se conecta mais com projetos que integram os conceitos e habilidades dessas áreas, nos quais os estudantes irão desenvolver a criatividade, o pensamento científico e a responsabilidade social ao investigar e idealizar soluções para problemas da comunidade escolar e da sociedade.

Portanto, quando falamos de metodologia que pode apoiar o STEM em sala de aula, estamos tratando da Aprendizagem Baseada em Projetos - ABP (Bacich e Holanda, 2020), junto com a cultura maker, a computação criativa e outros processos que ajudem os estudantes no desenvolvimento de projetos que envolvem o Construcionismo: construção do conhecimento por meio do desenvolvimento de um produto palpável de interesse do estudante (Papert, 1986). Na teoria de Papert, um dos principais autores sobre o tema, é possível encontrar relações entre o construcionismo e o pensamento computacional, em que essa construção do produto pode ser mediada pelo computador, quando há o emprego de algum recurso com o qual o estudante possa programar algo, por exemplo.

Na prática, projetos STEM englobam alguns dos elementos básicos da ABP, como momentos para que os estudantes investiguem um problema real, por meio da pesquisa, e também possam propor soluções, por meio de protótipos que serão construídos em sala de aula, mediados pelos educadores que os acompanham. Nem todas as áreas terão a mesma relevância para o projeto, mas este será transdisciplinar, ou seja, envolve a integração das áreas e ainda novos conhecimentos que serão construídos pelos estudantes em suas propostas autorais (Bacich e Holanda, 2020).

Portanto, consideramos melhor o uso da definição abordagem STEM para projetos. Essas iniciativas estão intrinsecamente conectadas com os desafios das formações de professores na atualidade, com um olhar para o desenvolvimento de competências como a colaboração e a criatividade e também para processos que incentivam o empreendedorismo e a intervenção sociocultural, eixos dos Itinerários Formativos do Novo Ensino Médio. Vamos explorar um pouco mais a sinergia entre as possibilidades dos projetos STEM e as necessidades das escolas nos tópicos a seguir.

Quero fazer diferente, mas como?

Estimular que a equipe desenvolva projetos STEM alinhados ao currículo é um desafio para muitos gestores, pois envolve uma estrutura de trabalho diferente da qual estamos habituados, em que educadores possam trabalhar juntos promovendo a integração das áreas. Os espaços que podem ser utilizados, a organização do trabalho em grupo, os recursos disponíveis e a formação de professores são apenas mais alguns dos diversos desafios encontrados pela comunidade escolar na implementação desta abordagem. Vamos explorar a seguir alguns caminhos possíveis para que gestão escolar contribua com a implementação de projetos STEM na escola.

Gestão empática

O trabalho por projetos demanda uma escuta apurada dos estudantes e um conhecimento do contexto, pois o engajamento para as soluções, frente aos problemas identificados, virá do quanto os estudantes se conectam e se preocupam com o tema gerador do projeto. Nesse sentido, quanto mais a escola estiver aberta para a comunidade, maior será a sensibilização do olhar dos estudantes para o seu entorno. Também vale compreender quais são os desafios dos professores no trabalho por projetos – muitas vezes, são pontos em que os gestores podem contribuir de forma direta, como a organização de momentos de planejamento coletivo para que os projetos ganhem vida na escola.

Gestão articulada

Frente aos desafios vivenciados pela comunidade escolar, quais são as iniciativas que podem contribuir com a formação e a infraestrutura necessárias, para que o trabalho com projetos STEM se viabilize?

O gestor deve procurar manter uma postura aberta para possíveis ações intersetoriais, mapeando potenciais parcerias, como com universidades e organizações da sociedade civil. O programa Solve for Tomorrow é uma dessas iniciativas, que pode ajudar no engajamento de estudantes para pensar soluções para problemas da sua comunidade e, ao mesmo tempo, propiciar um espaço de formação para os docentes.

Saiba +
O programa Solve for Tomorrow oferece mentoria para apoiar o desenvolvimento dos projetos inscritos. Além disso, há um conjunto de materiais para apoiar professores que se interessam em trabalhar por projetos e com a abordagem STEM. São cursos, infográficos, guias, entre outros conteúdos formativos, disponíveis gratuitamente. Navegue pelo link, organize a sua pesquisa e divulgue em sua escola: linktr.ee/RPA_premio.

Conhecer iniciativas como o Solve for Tomorrow e divulgá-las aos professores é uma forma de incentivar a inovação e um olhar para o trabalho por competências. Mas lembre-se: será importante também apoiar os docentes e estudantes, uma vez que eles são os proponentes e executores dos projetos, principalmente nos quesitos de espaços de trabalho e recursos. Nem sempre é preciso ter tudo à mão, mas conhecer os caminhos é fundamental para esse apoio.

Professores como agentes da mudança

A formação docente é um grande desafio quando pensamos em projetos STEM. Muitos sequer conhecem a abordagem ou conceitos como o Construcionismo ou Pensamento Computacional. Além de apresentar a abordagem, algumas formações continuadas mostram maior engajamento dos professores, têm buscado promover a experimentação e são desenvolvidas por homologia de processos (Moriconi, 2017). Se queremos que os professores conheçam o papel de um mediador de projetos, talvez seja interessante vivenciar um projeto durante sua formação, desenvolver as etapas como um estudante, ou mesmo implementar propostas que são estudadas em teoria. Principalmente quando tratamos de projeto, há um salto enorme entre a teoria da ABP e como ela, de fato, ocorre em sala de aula. Por isso, a experimentação, a tentativa e as comunidades de troca (ter momentos para compartilhar o que deu certo e o que não deu) são essenciais nesse processo.

Práticas investigativas para envolver os estudantes

O trabalho em projetos STEM passa pela ancoragem em temas de interesse dos estudantes e também pela ampliação das informações que irão ajudá-los a conhecer melhor os desafios para os quais estão propondo soluções. A pesquisa e a comunicação das informações são etapas fundamentais para transformar a experiência em aprendizagem. Vale incentivar que os professores promovam processos autênticos de investigação, não apenas relatórios formais de pesquisa, mas rodas de compartilhamento, elaboração de materiais que ajudem a comunicar as informações pesquisadas (como mapas mentais e infográficos) e rodadas de apresentações com os resultados da pesquisa. No caso do Solve for Tomorrow, esses processos fazem parte da trajetória dos participantes, porém, mesmo projetos não selecionados podem ser estimulados nas instituições e momentos como os que citamos anteriormente, de comunicação, podem também acontecer para a comunidade escolar, seja em eventos da escola ou por meio de suas redes sociais. Aqui a gestão entra em cena, contribuindo para que essa comunicação alcance de fato a escola e o território.

Os espaços escolares para projetos STEM

Muitas vezes acreditamos que somente escolas com muitos recursos tecnológicos podem promover projetos STEM entre seus estudantes. Sabemos que recursos são fundamentais, mas eles não são a essência de projetos. É possível desenvolver projetos autorais e profundos com materiais simples. Se você deseja conhecer alguns, inspire-se nos projetos premiados em edições anteriores do Solve for Tomorrow e note que muitos sequer utilizam soluções mais avançadas (como placas de prototipação, programação, laboratórios de ciências ou materiais para experimentos).

Saiba +
Acesse o nosso Banco de Práticas. As experiências de alguns projetos foram transpostas/adaptadas em planos de aula com objetivos, áreas do conhecimento envolvidas, temas abordados e habilidades previstas na BNCC. Os documentos apoiam o trabalho em sala de aula e nos espaços de pesquisa. Há projetos de agricultura familiar, alternativas para tratamento de água, reflorestamento, entre muitos outros.

Ainda nesse contexto, o grande desafio é promover um olhar para os espaços que incentivem a colaboração. Espaços onde estudantes possam começar seus projetos, armazená-los entre as aulas, ter acesso a recursos como computadores, internet, materiais de laboratório, nem sempre estão presentes na escola – ou, muitas vezes, acabam ficando fechados e sem uso. O desafio dos gestores aqui é ajudar a equipe docente e discente a encontrar soluções criativas para espaços que possam contribuir com os projetos. Muitas vezes os espaços podem ser adaptados. Quando há o aval e o direcionamento da gestão, há também uma comunicação da valorização desse tipo de trabalho para toda a comunidade escolar.

Potencializar e reconhecer - O Programa Solve for Tomorrow

O Solve for Tomorrow Brasil é uma iniciativa que pode contribuir para o enfrentamento de muitos desafios, não apenas da gestão, mas também os que cabem a docentes e estudantes. A tarefa de engajar a comunidade escolar não é simples, e nem sempre vemos muitos projetos de uma mesma instituição avançar nas etapas da premiação. Porém, o trabalho desempenhado por essas equipes muitas vezes é capaz de mobilizar toda a comunidade no apoio e no reconhecimento do que está sendo desenvolvido na escola.
Na educação pós-pandemia, a recomposição das aprendizagens se tornou um tema recorrente nas escolas de todo o país. Porém, para que possamos contribuir com essa recomposição, precisamos olhar antes para o engajamento dos estudantes. Iniciativas como o Solve For Tomorrow podem ajudar a engajar estudantes para o conhecimento, por meio de projetos autorais e que explorem contextos autênticos e de interesse deles. Pode ser um espaço que estimula a criatividade, a colaboração e um olhar empático para os problemas enfrentados pela comunidade, um espaço de trocas e desenvolvimento de novas ideias.
Caros gestores, nesse sentido, reafirmamos que a divulgação do Solve for Tomorrow em sua instituição pode ser uma boa iniciativa para que professores tenham contato com projeto STEM e aprendam mais sobre o tema na prática – orientando estudantes em suas produções e, ao mesmo tempo, gerando um ambiente de experiências pedagógicas que permitam desenvolver competências fundamentais para a formação de estudantes críticos, preparados e dispostos para o exercício da cidadania.

Referências

BACICH, Lilian; HOLANDA, Leandro. STEAM em sala de aula: a aprendizagem baseada em projetos integrando conhecimentos na educação básica. Penso Editora, 2020.

PAPERT, Seymour. Constructionism: A new opportunity for science education - a proposal to the national science foundation. Cambridge-Massachussets: MIT Media Laboratory, 1986.

PARO, V. A educação, a política e a administração: reflexões sobre a prática do diretor de escola. Educação e Pesquisa , São Paulo, v. 36, n. 3, p. 763-778, set./dez. 2010.

MORICONI, Gabriela Miranda et al. Formação continuada de professores: contribuições da literatura baseada em evidências. São Paulo: FCC, 2017.