Trabalho com projetos STEM motivado pelo olhar para a realidade estimula a integração de conhecimentos e disciplinas
Os projetos vencedores da 9ª edição do programa Solve for Tomorrow Brasil foram anunciados no dia 22 de novembro. Além de se destacarem pela criatividade e relevância de suas propostas, esses projetos mostram a importância de integrar conhecimentos e disciplinas para a construção de percursos de ensino-aprendizagem mais conectados à realidade e aos interesses dos(as) estudantes.
No Solve for Tomorrow, iniciativa global da área de Cidadania Corporativa da Samsung, o incentivo ao trabalho interdisciplinar aparece por meio da abordagem STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e pela possibilidade de o(a) professor(a) orientador(a) de cada equipe indicar, como parceiro(a), um(a) docente da mesma área ou de outra área do conhecimento, como Linguagens e Ciências Humanas.
“Trabalhar por projetos já sugere, por si só, uma integração entre diferentes áreas, pois essa prática demanda um olhar atento para a realidade, e a realidade não é compartimentada em ‘caixinhas’ de conhecimento. Assim, o trabalho interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar se torna uma necessidade para uma educação contextualizada e conectada com a sociedade do século XXI”, explica Ana Cecília Arruda, Coordenadora de Programas e Projetos do Cenpec, organização responsável pela coordenação geral do Solve for Tomorrow no Brasil.
“Além dos alunos que apresentam suas ideias por meio de projetos inovadores, o Solve For Tomorrow envolve todo o corpo acadêmico de escolas em todo o país. São professores, além dos orientadores, que auxiliam os grupos nas fases práticas, teóricas e até de testes, aplicando seus conhecimentos para contribuir com o avanço dos projetos, para que alcancem uma posição de destaque no programa”, afirma Anna Karina, diretora de Marketing Corporativo da Samsung Brasil. “Esse envolvimento de mais pessoas, incluindo da administração e diretoria escolar, é fundamental para o surgimento de projetos cada vez mais diversos, inteligentes e com impacto positivo para a população.”
Multi, inter e transdisciplinaridade: qual é a diferença?
Essa é uma dúvida comum entre professores e mesmo entre pesquisadores da área da Educação. Uma possibilidade, de acordo com alguns especialistas – como a filósofa e professora portuguesa Olga Pombo –, é pensar esses conceitos como um continuum, que vai da coordenação (multidisciplinaridade) à fusão de saberes (transdisciplinaridade), passando pela combinação e convergência de conhecimentos (interdisciplinaridade).
Referência: Epistemologia da Interdisciplinaridade, de Olga Pombo.
Interdisciplinaridade na prática
No projeto Micro Estação de Tratamento de Água Domiciliar Portátil (Menção Honrosa na 9ª edição), o professor orientador Fabio Carnielo, de Biologia, contou com a parceria de Wandersson Assunção, docente de Filosofia. “Esse trabalho conjunto foi muito importante para a colocação do problema e sua resolução. Toda a Ciência parte da Filosofia, afinal”, aponta Fabio. “Conseguimos aliar o conhecimento técnico com o pensamento crítico e conceitual.”
Fabio relata que outras disciplinas também foram essenciais para o projeto. “O trabalho envolve, por exemplo, as características geográficas e o contexto histórico do nosso local. Trabalhamos também com análises químicas e microbiológicas. Tivemos, então, o envolvimento de diferentes disciplinas e muita colaboração entre os professores, inclusive para apoiar e motivar os estudantes em todas as etapas da premiação.”
Equipe do projeto Micro Estação de Tratamento de Água Domiciliar Portátil recebe prêmio
durante o evento final da 9ª edição do Solve for Tomorrow Brasil (Samsung/Solve for Tomorrow)
A equipe do projeto Horta Magnética (Vencedor Nacional em 3º lugar e também Vencedor pelo Júri Popular), orientada pela professora de Biologia Vanessa Raquel Almeida, teve a participação da professora de Geografia Itacirene dos Santos. “Conseguimos envolver as duas disciplinas no projeto, e a proposta do Solve for Tomorrow Brasil corroborou essa integração”, afirma Vanessa.
Itacirene conta que, na escola, foi importante a parceria também de professores de outras áreas, como Matemática, Física e Química. “Contamos com esse apoio durante todo o desenvolvimento do projeto, e isso foi essencial. Dentro da disciplina Geografia, que eu ministro, trabalhamos tópicos como tipos de solo e clima regional. Todos esses conteúdos foram importantes para que os estudantes pudessem ir para a prática e colocar a mão na massa.”
Equipe do projeto Horta Magnética recebe prêmio
durante o evento final da 9ª edição (Samsung/Solve for Tomorrow)
A também professora de Biologia Heloina Capistrano, orientadora do projeto ARBOCAPS: Cápsulas Sustentáveis Biodegradáveis em combate a arboviroses (Vencedor Nacional em 1º lugar), destaca que a interdisciplinaridade já é um pressuposto da abordagem STEM, foco do Solve for Tomorrow. O professor parceiro do projeto, Eduardo Henrique da Silva, é docente de Artes. “Os alunos utilizaram conteúdos das aulas de Artes para na etapa de design do protótipo”, conta a professora. “E outras disciplinas também colaboraram muito, como Língua Portuguesa, fundamental para a produção escrita e a interpretação de texto.”
“Trabalho como parceiro da professora Heloina em projetos científicos desde 2019 e venho buscando as melhores formas de auxiliar nesse processo. Para mim, a participação no Solve for Tomorrow foi uma experiência inovadora e muito interessante, com muitas trocas”, conta o professor Eduardo. “Percebi que a metodologia STEM, que no caso também pode receber o A de ‘artes’ e ser chamada de STEAM, abre muito espaço para essa integração. Consegui trazer algumas abordagens artísticas para a criação do protótipo, por exemplo.”
Eduardo afirma que a mentoria do Solve for Tomorrow Brasil apresentou ferramentas que ampliaram ainda mais as possibilidades de colaboração interdisciplinar dentro do projeto. O professor trabalhou também na produção de imagens e do vídeo de apresentação da proposta, requisito para a etapa do Júri Popular. “Percebemos que o projeto estava mais ligado às artes do que podíamos compreender no início. Vimos como a área é primordial para o desenvolvimento de um projeto de qualidade. Essa experiência abriu possibilidades também para outros professores da escola, mostrando que, para além de ser um projeto de Ciências, este é um projeto integrador.”
Equipe do projeto ARBOCAPS recebe prêmio
durante o evento final da 9ª edição (Samsung/Solve for Tomorrow)
Gestão escolar: apoio fundamental
Além da abertura para integração com outras disciplinas, as experiências desses professores e professoras têm em comum o apoio das equipes de gestão em suas escolas. “Contamos com apoio para que os estudantes desenvolvessem essa ideia e aplicassem conhecimentos na prática. Temos uma gestão que incentiva a participação em programas e competições científicas”, conta Heloina sobre a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Marconi Coelho Reis, de Cascavel (CE), onde foi realizado o projeto ARBOCAPS.
No Centro Educacional de Tempo Integral Professor Manuel Vicente Ferreira Lima (Coari-AM), onde foi elaborada a Micro Estação de Tratamento de Água Domiciliar Portátil, as equipes de gestão e administração “participaram integralmente de todo o processo”, afirma Fabio Carnielo. “Eles apoiaram no sentido de incentivar e também de cuidar da logística e da organização, com investimento financeiro e gestão do processo de levantamento de documentos e autorizações.”
A professora Vanessa Raquel Almeida relata apoio semelhante no Centro de Ensino de Tempo Integral Dom Ungarelli (Pinheiro-MA). “O trio gestor participou de forma ativa do projeto Horta Magnética, fornecendo subsídios e estimulando a pesquisa científica. Nossa escola trabalha com o protagonismo dos estudantes, e eles tiveram autonomia para realizar pesquisas e elaborar o projeto.”
“Nesse contexto de trabalho com projetos STEM, é muito importante o envolvimento de todas as áreas da escola”, afirma Ana Cecília, do Cenpec. “Para isso, são fundamentais o incentivo, o apoio e o olhar da equipe de gestão escolar. Nossa experiência mostra que, quando isso acontece, os projetos avançam muito mais e os benefícios para a aprendizagem e a motivação dos estudantes são ainda maiores.”
Leia mais: O papel da gestão escolar em projetos STEM
“A participação no programa mostra que nossos estudantes de escola pública são capazes de ir em busca do novo, do desconhecido, de fazer novas descobertas. Perceber o brilho nos olhos deles nesse processo tem sido o combustível para o meu trabalho”, conclui a professora Itacirene dos Santos.
Evento de premiação
A cerimônia de premiação da 9ª edição do Solve for Tomorrow Brasil foi realizada em São Paulo no dia 22 de novembro de 2022 e foi transmitida no canal do programa no YouTube.
Com apresentação do professor de Biologia e youtuber Guilherme Goulart, o evento teve depoimentos de estudantes que participaram de edições anteriores do Solve for Tomorrow Brasil. Contou, ainda, com a participação da diretora de Marketing Corporativo da Samsung Brasil, Anna Karina Pinto, do vice-presidente de Relações Institucionais da Samsung para a América Latina, Mario Laffitte, e da presidente do Conselho de Administração do Cenpec, Anna Helena Altenfelder, além de uma mensagem do presidente da Samsung Electronics Brasil, Kevin Seo.
Assista à íntegra da gravação:
Lista de vencedores da 9ª edição
Conheça todos os projetos vencedores da 9ª edição do Solve for Tomorrow Brasil:
▶ ARBOCAPS: Cápsulas Sustentáveis Biodegradáveis em combate a arboviroses | Vencedor Nacional (1º lugar)
O aumento de casos de arboviroses transmitidas por mosquitos hematófagos e a precária estrutura de saneamento na região de Cascavel (CE) trouxeram preocupações reais para os(as) estudantes do projeto. A equipe produziu cápsulas que, quando colocadas em água parada, liberam gradualmente biocompostos que combatem a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Professor(a) orientador(a): Heloina Lopes Capistrano
Professor(a) parceiro(a): Eduardo Henrique da Silva
Equipe da turma: 1º ano - turma D
Instituição de Ensino: EEMTI MARCONI COELHO REIS
Cidade: Cascavel
Estado: CE
▶ Elaboração de uma biopomada como alternativa no tratamento da Leishmaniose | Vencedor Nacional (2º lugar)
A equipe do projeto, preocupada com a viabilidade e a forma de tratamento da Leishmaniose em sua região, buscou desenvolver uma alternativa de fácil administração e acesso: elaborou uma biopomada fitoterápica para aplicação nas feridas cutâneas provocadas pela doença, com o uso de plantas nativas da região.
Professor(a) orientador(a): Minelly Azevedo da Silva
Professor(a) parceiro(a): Márcia Bay
Equipe da turma: 3º ano do Curso Técnico Integrado em Química
Instituição de Ensino: IFRO - CAMPUS PORTO VELHO CALAMA
Cidade: Porto Velho
Estado: RO
▶ Horta Magnética | Vencedor Nacional (3º lugar) e Vencedor pelo Júri Popular
A equipe de estudantes e professoras propôs um método de produção de hortaliças capaz de suprir as necessidades de sua escola. A ideia é realizar a produção sem o uso de agrotóxicos e de forma mais rápida, empregando uma técnica que utiliza campos magnéticos para acelerar o crescimento das plantas.
Professor(a) orientador(a): Vanessa Raquel Campos Almeida
Professor(a) parceiro(a): Itacirene da Conceição Sousa dos Santos
Equipe da turma: 3º ano 300
Instituição de Ensino: CENTRO DE ENSINO DE TEMPO INTEGRAL DOM UNGARELLI
Cidade: Pinheiro
Estado: MA
▶ GEEVACDA - Protótipo de Gerador Elétrico Eólico Vertical de Baixo Custo | Vencedor pelo Júri Popular
Diante da alta demanda energética no planeta, a equipe propõe uma alternativa para obtenção de energia local: a construção de um gerador eólico de baixo custo que aproveita as correntes geradas no deslocamento de veículos leves e pesados em rodovias.
Professor(a) orientador(a): Oeliton Vieira Fortes
Professor(a) parceiro(a): Gladis Blanger Canello
Equipe da turma: 1º ano - turma 108
Instituição de Ensino: EEB BOM PASTOR
Cidade: Chapecó
Estado: SC
▶ Produção de luvas a partir do bioplástico produzido através da Agave sisalana | Vencedor pelo Júri Popular
Diante da quantidade de lixo produzido pelo descarte de EPIs (equipamentos de proteção individual) no laboratório da escola, em especial luvas de látex, a equipe criou um meio alternativo de proteção mais sustentável: luvas de bioplástico produzido a partir da planta Agave sisal. O material confere às luvas rigidez, impermeabilidade e resistência.
Professor(a) orientador(a): Pachiele da Silva Cabral
Equipe da turma: 1º ano de Análises Clínicas
Instituição de Ensino: EE - CENTRO TERRITORIAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO SISAL II
Cidade: Araci
Estado: BA
▶ Micro Estação de Tratamento de Água Domiciliar Portátil | Menção Honrosa
O projeto teve como ponto de partida a falta de saneamento básico e de água tratada na região de Coari, interior do Amazonas. Para enfrentar o problema, que atinge principalmente populações ribeirinhas, a equipe desenvolveu um sistema portátil de tratamento de água que utiliza materiais recicláveis, baratos e de fácil manutenção.
Professor(a) orientador(a): Fabio Cano Carnielo
Professor(a) parceiro(a): Wandersson Ferreira Assunção
Equipe da turma: 1º ano turma 02 Integral
Instituição de Ensino: ESC EST CETI PROFESSOR MANUEL VICENTE FERREIRA LIMA
Cidade: Coari
Estado: AM
Assista aos vídeos produzidos pelas equipes vencedoras.
