Uma das novidades da 7a edição do Prêmio Respostas para o Amanhã são as mentorias aos projetos semifinalistas e finalistas. Trata-se de encontros virtuais entre as equipes selecionadas e especialistas em metodologia científica, trabalho por projetos e abordagem STEM, que atuam como mentores para apoiar o desenvolvimento dos projetos. Para os 20 semifinalistas, a mentoria aconteceu ao longo do mês de setembro, com uma reunião virtual semanal entre as equipes e seus(suas) mentores(as), além de conteúdos e atividades previstos em cada semana.
Entre os objetivos da mentoria estão:
Além disso, as equipes participaram de dois webinários com especialistas: o primeiro, sobre Cocriação, com Marcia Padilha, aconteceu no dia 08/09; o segundo, sobre Prototipagem, com Fabricio Masutti, realizou-se no 14/09. (Foto acima: semifinalistas da edição 2019.)
1º Webinar Cocriação: revisão da pergunta inicial e do desenvolvimento do protótipo
A Cocriação foi o tema do 1º Webinar realizado para as equipes semifinalistas. Ao longo de pouco mais de 1h30, a palestrante, Marcia Padilha, falou de metodologias de trabalho em grupo, pensamento criativo e resolução de problemas.
Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Marcia há duas décadas atua junto a organizações no Brasil e em outros países da América Latina, tendo coordenado mais de 30 projetos inovadores envolvendo uso de tecnologias e cultura digital na educação, formação docente, criação e avaliação de projetos educacionais, além de ter escrito diversos artigos e livros sobre esses temas. Nos últimos anos, Márcia tem se dedicado a projetos, formações e consultorias com enfoque em criatividade, coautoria e cocriação de processos orgânicos e sustentáveis de inovação para a melhoria da qualidade na educação.
Entre os conceitos relacionados à cocriação, Marcia destaca o pensamento divergente, relacionado ao processo criativo na busca de soluções a problemas identificados. “Pensamento divergente e criatividade são como a história do ovo e da galinha: sempre andam juntos", compara a especialista. (Imagem: Apresentação de Marcia Padilha durante Webinário.)
No trabalho em grupo, a diversidade é muito importante, ressalta a especialista. A presença de pessoas de diferentes idades, etnias, experiências, conhecimentos, valores e olhares possibilita um compartilhamento de saberes e visões sobre determinados temas que enriquece muito o trabalho em grupo. "Essa diversidade, não só de percursos de vida, como também de áreas do conhecimento, permite às pessoas uma contribuição bastante variada, mesmo na área científica", afirma.
"Cocriação e pensamento divergente |
A educadora apresentou os cinco tipos de pensamento relacionados à criatividade e ao pensamento divergente: o pensamento figurativo, a fluência, a flexibilidade, o pensamento por metáforas e originalidade:
"O pensamento figurativo e elaboração de detalhes é próximo a quem trabalha com linguagens artísticas e é uma linha possível de pensamento criativo. É próprio de pessoas que têm a capacidade de visualizar uma ideia com muitos detalhes, o que é muito importante no momento de entender um contexto ou desenvolver um protótipo.
Outro tipo de criatividade é a fluência: quem é fluente é capaz de produzir muitas respostas válidas para uma mesma pergunta, no mesmo assunto e campo de pensamento.
Já a flexibilidade é um pouco diferente: é a capacidade de criar diferentes respostas que envolvem áreas de conhecimento diversas. Por exemplo, uma resposta está relacionada às ciências, outra ao campo social, outra com arte, outra ainda ligada à culinária… É um tipo de pensamento amplo e flexível.
Outra característica da criatividade é a capacidade de pensar por metáforas, fazer comparações. Isso permite trazer elementos de outro contexto que podem ajudar na resolução do problema. Isso possibilita relacionar uma situação de um contexto social, por exemplo, com outros, o que permite pensar de maneira diferente aquela questão.
A última e talvez mais conhecida característica do pensamento criativo é a originalidade, ou seja, a capacidade de dar respostas improváveis e originais.”
Dessa de pensar potencializa a criatividade na busca de soluções. Ao tratar da relação entre cocriação e pensamento convergente, Marcia destaca entre as aprendizagens que se pode desenvolver em grupo:
No artigo “Metáforas e pensamento divergente”, de Ana Paula David, Maria de Fátima Morais, Ricardo Primi e Fabiano Koich Miguel (2014), você encontra a explicação sobre essa forma de pensamento. |
A especialista destaca ainda como atitudes importantes para a cocriação:
Mas como a criatividade, o pensamento divergente e a cocriação se relacionam ao projeto de investigação científica? "O pensamento científico tem como foco a busca de respostas a uma questão e a resolução de problemas. Para isso, é necessário entender bem um contexto, fazer diferentes perguntas a fim de observá-lo de diferentes ângulos e pontos de vista. Isso é ser criativo. Assim, quanto mais pontos de vista eu desenvolvo sobre o mesmo problema, melhor. Nesse sentido, a ampliação de repertório é fundamental, pois, ao estudar diferentes autores é possível observar como cada um viu o mesmo problema de maneiras diferentes e desenvolveu as variadas respostas para solucioná-lo. Isso me permite fazer muitas conexões e caminhos diferentes para entender o contexto”, explica.
Outro ponto fundamental na criatividade para a resolução de problemas é fazer boas perguntas: "A pergunta muda totalmente o caminho da solução. Por exemplo: eu tenho muito lixo na rua. Se eu faço a pergunta "Como fazer as pessoas deixarem de jogar lixo na rua?", estou indo para um caminho. Se eu pergunto "Que mecanismos eu posso criar para recolher o lixo da rua?", o caminho é diverso.
A primeira pergunta talvez me leve a elaborar uma campanha de educação socioambiental ou de uma gamificação para mudar comportamento humano. Enquanto a outra vai para um caminho de criar clones, drones ou outros artefatos que não envolvem necessariamente uma mudança comportamental”, exemplifica Marcia. (Foto ao lado: semifinalistas da edição 2019.)
2º Webinar Prototipagem
Nesta conversa, realizada no 14/09, o músico, artista visual e educador Fabricio Masutti trata de um tema de grande interesse para as equipes desenvolverem seus projetos: a prototipagem. Fabricio é pesquisador na área de Arte e Tecnologia, e há 8 anos atua na mediação de projetos que envolvem Arte, Eletrônica e Tecnologia de Informação. Desde 2012 é instrutor de artemídia e cultura digital, percorrendo diversas linguagens artísticas no que tange seu encontro com as tecnologias computacionais livres. Atualmente é professor de Artes e STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) no Colégio Bandeirantes, em São Paulo (SP) e cursa especialização em Arte-educação, além de atuar no Coletivo Máquina Tudo, na criação de artes visuais, jogos e oficinas com o uso de diferentes tecnologias.
O educador inicia sua fala apresentando uma breve história do Design Thinking (DT), um caminho de pensar e abordar problemas centrado nas pessoas. Trata-se de uma abordagem que pode ajudar a desenvolver o processo de prototipagem, especialmente no atual contexto de pandemia.
“Essa forma de cocriação e resolução de problemas passa, em geral, por cinco etapas: - descoberta - colocar-se no lugar do outro, observar o público para quem se dirige o projeto ou o produto a ser criado a fim de identificar suas necessidades; - interpretação - coletar e relacionar os dados da fase um e pensar no que significam; - ideação - levantamento do maior número de ideias possível sobre o problema; - experimentação - concretização de uma ou mais ideias - é a fase da prototipagem; - evolução - seleção das ideias levantadas para descarte de umas e aprimoramento de outras." (Fabricio Mansutti - foto ao lado) |
Mas o que é prototipagem e como ela se relaciona ao Design Thinking? "A prototipagem tira as ideias de dentro da nossa cabeça e as coloca no mundo. É basicamente transformar uma ideia numa coisa - no nosso caso, numa coisa que acontece no mundo digital", explica Fabricio. Um protótipo tem sempre uma forma física, que varia bastante: uma parede de post-its, uma atividade de representação, um objeto material, mas também uma coisa virtual, como um aplicativo, uma animação…
Prototipar é uma etapa que ajuda a economizar tempo e recursos. Por isso, nos primeiros estágios, é importante construir protótipos baratos e em baixa resolução a fim de aprender rápido e explorar possibilidades, observa o especialista. "Imagine se eu lanço um produto no mercado e depois percebo que o material empregado é fraco ou uma de suas funções não é adequada ao uso? Por isso, a prototipagem é fundamental”, afirma.
Para ser bem-sucedida, é importante proporcionar o maior número de experimentações e interações com os protótipos. "Isso permite identificar possíveis e pontos a serem aprimorados, além de serem uma ótima forma de iniciar uma conversa com o público a quem essa criação se dirige." (Foto ao lado: semifinalistas da edição 2019.)
Em seguida, o especialista apresentou e demonstrou o uso de diversas ferramentas digitais úteis para a construção de protótipos, como:
Por fim, Fabricio apresentou alguns dos projetos desenvolvidos junto ao Coletivo Máquina Tudo, como o BANGBOO (foto ao lado), game de realidade aumentada criado em 2015 (antes do Pokemón Go) que possibilita ao participante ser um caça-fantasma, transformando qualquer ambiente em um cenário de infestação fantasma.
Outro projeto apresentado é o Amarelinha Digital, exposto em 2017 na Galeria de Arte Digital da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Nesta cineinstalação criada pelo artista Pablo Villavicencio e hardware desenvolvido por Fabrício, a tradicional brincadeira de rua se transforma em um instrumento de edição audiovisual. Enquanto pula sobre os quadrados no piso sensível, o participante seleciona imagens e efeitos para aplicar em seu vídeo.
Equipes semifinalistas: percepções e aprendizagens
No Ambiente Virtual de Aprendizagem, as equipes dialogam com seus mentores e mentoras sobre suas propostas, os materiais apresentados para o desenvolvimento dos projetos e protótipos, e são estimuladas a compartilhar experiências, descobertas, ideias e impressões sobre as atividades desenvolvidas ao longo da mentoria.
Para isso, foram criados fóruns de discussão envolvendo estudantes (Conexão Equipes) e professores (Café Pedagógico). Além disso, a Sala de Estudos oferece uma biblioteca temática com materiais de apoio para aprofundamento nos diferentes focos do Prêmio e maior qualificação dos projetos. Entre os temas abordados nesses materiais, estão: STEM; colaboração; projetos; Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS); conhecimento científico; transformação. Esses materiais também podem ser acessados no site do Respostas para o Amanhã, nas abas Professor e Estudante.
A seguir, confira depoimentos de estudantes sobre os Webinários postados no Conexão Equipes:
"O webinar de hoje [sobre Cocriação] foi sensacional! As metodologias apresentadas são muito diversificadas e interessantes [...] Na reunião também foi destacado o trabalho em grupo, e isso é de essencial importância, não acham? Um grupo harmônico, bem resolvido, produz bem mais do que um grupo desarmônico. E, sim! Empecilhos vão aparecer, discussões entre os integrantes irão ocorrer, mas o ‘grupo’ sempre deve falar mais alto.” Estudantes da equipe EEMTI Marconi Coelho Reis, Cascavel (CE), projeto BAP: Biocompósito para Adsorção de Poluentes |
“Participar desse webinar sobre co-criação foi uma experiência muito embasadora do conhecimento que precisamos no decorrer do projeto que se segue, as maneiras de lidar com as ideias e de melhorar a criatividade de um grupo como um todo que foram apresentadas durante a reunião ajudaram muito com a nossa forma de pensar e o ritmo com que seguiremos a evolução da ideia a base que deu origem a iniciativa.” Estudantes da equipe CAE - EDUC PROFS Adroaldo A. Colombo, Palotina (PR), projeto Reflorestamento utilizando minifoguetes: Pitanga e Ipês |
"O webinar mostrou que com respeito e criatividade podemos organizar um projeto em equipe que poderá revolucionar o futuro de cada estudante que se empenha em seus projetos, pois para ter um bom projeto revolucionário devemos usar toda criatividade existente em cada um, podendo compartilhá-la e gerar o projeto trabalhado pela equipe." Estudante da equipe Centro Estadual de Educação Profissional do Campo Milton Santos, Arataca (BA), projeto BIOMASSA DE BANANA VERDE: uma alternativa para produção de embalagens biodegradáveis |
“Maravilhoso esse webinar, não é mesmo? A diversidade de tipos de protótipos que foram apresentadas me fez perceber que protótipo não é algo apenas físico, como estamos acostumados a achar quando alguém fala sobre protótipo.” Estudantes da equipe IFSP - Campus Campinas (SP), projeto STEAM na prática: água tratada para todos |
“Olá! Nós, do grupo materiais a base de grafeno sintetizados eletroquimicamente adoramos o webinar de terça. O encontro nos apresentou um leque de possibilidades para aprimoramento do nosso protótipo! Os aplicativos são perfeitos para o teste/desenvolvimento dos equipamentos do nosso projeto. O palestrante foi bastante esclarecedor ao aprofundar os níveis de finalidade, assim como reforçar a ideia de explorar ao máximo todas as possibilidades em vez de apenas detalhar uma única visão.” Equipe: Instituto Federal de Pernambuco - Campus Recife (PE), projeto Materiais a base de grafeno sintetizados eletroquimicamente para remoção de corantes têxteis usados no polo de confecção do Agreste Pernambucano |
Café pedagógico com os professores
Abaixo, selecionamos depoimentos de professores sobre os Webinários postados no forum Café Pedagógico:
"Realmente o tema Cocriação foi muito esclarecedor. O que chamou a minha atenção foi algumas diferenças de criatividade no processo científico, cada um tem um jeito de se comportar dentro do processo de ideias científicas. Também gostei dos aplicativos apresentados (padlet, jamboard). Nesse contexto de pandemia, aulas on-line dá pra usar muito bem. O processo de brainstorming (chuva de ideias) é fantástico, usando post it ainda mais, ajuda muito na interação de um grupo e instiga a participação. O que foi falado também sobre o processo de ideias convergentes e divergentes foi muito bom." Thayane Farias, professora orientadora da equipe Edson Queiroz, EEEP, Cascavel (CE), projeto Vespertílio 01- robô semeador para a agricultura familiar |
"Gostei muito da abordagem sobre divergir x convergir, e como ela deixou claro que divergir não é brigar, hehe. [...] Creio que o webinar acrescentou muito com relação à prática pedagógica, em especial em tempos de pandemia. Foram trazidos muitos conceitos e ferramentas que ajudarão muito a dinamizar, tanto aulas remotas, como o projeto em si." Vinícius Vendrúsculo, professor orientador da equipe IFSUL - Campus Venancio Aires (RS), projeto Reúso Racional da Água (RRA) |
"O Webinar sobre prototipagem foi incrível, e quando falamos em protótipos as ideias e as soluções para um projeto para esse processo têm um começo, um meio e o fim quase nunca existe. Nós do JADes vivenciamos essas etapas: num primeiro momento projeto era para organizar a fila da merenda, depois observamos o desperdício, então um dos temas da feira de ciências em 2019 foi a utilização do Arduíno, desenvolvemos um sistema de RFID, daí veio a ideia de desenvolver um site, depois o aplicativo. Agora, com o aplicativo em desenvolvimento as possibilidades são muitas e a cada dia um nova ideia surge. Isso tudo é muito motivador." Bárbara Rodrigues, professora orientadora da equipe Sebastião de Oliveira Rocha, projeto Clube de Ciências Meninas nas Exatas Projeto : JADes - Juntos Acabaremos com desperdício |
"O Webinar sobre prototipagem foi realmente sensacional, muito bom!!! Dicas excelentes não apenas para serem empregadas nos projetos, mas também nas aulas. Juntamente com a professora parceira e amiga, Talita Cypriano, orientamos o projeto Waste Not que pretende colaborar com a diminuição do desperdício de alimentos, por meio da comunicação, conscientização e empreendedorismo. [...] E, lendo as mensagens, estou conseguindo conhecer melhor os demais projetos e estou encantada com a criatividade e, acima de tudo, a vontade de todos em fazer a diferença na vida das pessoas e do planeta!!!" Ana César, professora orientadora da equipe: Instituto Federal de São Paulo Campus - Bragança Paulista (SP), projeto Waste Not |
Seleção dos finalistas
A próxima etapa do Prêmio será a seleção dos 10 finalistas entre as 20 equipes semifinalistas. Para isso, de 1 a 7/10, os projetos serão avaliados por um Comitê de Especialistas, formado por profissionais que atuam nas áreas de conhecimentos das Ciências da Natureza, Matemática e abordagem em STEM. A lista dos finalistas será divulgada no dia 7/10, no site do Respostas para o Amanhã. Acompanhe!