O físico, que recebeu em março deste ano o prêmio Templeton e estreou em seu canal no YouTube o curso "O Caminho do Bem Viver", no qual explora como se dá nossa conexão com o planeta e o universo, congratulou jovens participantes do Respostas para o Amanhã e comentou sobre projetos e a importância do prêmio no incentivo à ciência
O físico astrônomo, escritor, roteirista, professor e pesquisador, Marcelo Gleiser, que recentemente foi eleito vencedor do Prêmio Templeton (2019) - criado em 1972 e nunca antes conquistado por nenhum outro brasileiro -, afirma que o prêmio Respostas para o Amanhã (RPA) inspira os jovens a pensar cientificamente e a fazer ciência, da forma adequada à região de cada um.
Difundir os preceitos e conceitos da ciência, demonstrando o quanto ela é presente na sociedade em que vivemos, é uma das tarefas à qual Gleiser tem se dedicado. Para tanto ele mantém, no YouTube, um canal com mais de 10 mil seguidores, no qual inaugurou um curso intitulado "O Caminho do Bem Viver", em que Gleiser explora “como nossa conexão com o planeta e o universo, inspirada pela ciência de ponta, pode nos ensinar a viver melhor, garantindo o futuro da humanidade”. Para ter acesso ao curso, basta se inscrever no canal do cientista (veja link no final do texto).
Respostas para o Amanhã: exercício da física e da ciência na prática
Vivenciar a ciência é uma das características importantes do RPA, apontadas por Gleiser em análise sobre os projetos premiados na edição de 2017. O especialista falou com os estudantes e professores, na cerimônia de premiação daquele ano, por meio de um vídeo exibido durante o evento. O físico levantou argumentos relevantes sobre os projetos e destacou o incentivo que o Respostas para o Amanhã oferece aos jovens e à área da ciência.
Marcelo chamou a atenção e ressaltou projetos que envolveram questões agrícolas e agropecuárias, apresentando soluções para melhoria da eficiência na extração de vegetais e incluindo o uso do conhecimento da sabedoria nativa no desenvolvimento de medicamentos e de técnicas de plantio. Além disso, ele destacou dois projetos em que a banana é a matéria-prima utilizada para produzir bioplástico. "É sensacional, afinal de contas, banana é uma fruta que o Brasil tem bastante e nada melhor que usá-la, ao invés de derivados de petróleo, para criar plástico que, inclusive, são biodegradáveis desde a sua construção".
O papel da educação como meio incentivador de crianças e adolescentes quanto às possibilidades que a ciência pode proporcionar como ferramenta auxiliadora nessa tarefa, também foram comentadas por Marcelo Gleiser. Ele ressalvou que a ciência, por si só, não possui todas as respostas e por isso é necessário haver um cuidado muito grande na educação, no sentido de ensinar os jovens - os futuros adultos cidadãos - sobre o papel individual que cada um possui no mundo e na proteção do planeta. "Ao mesmo tempo, dado o clima científico que vive nosso País, hoje, também é importante motivarmos o máximo possível nossos jovens a serem cientistas", acrescentou Gleiser.
O incentivo de alunos e alunas para escolher a área da ciência é apontado pelo recém premiado físico como um dos ganhos do RPA. Marcelo acredita que o prêmio auxilia os estudantes também nessa escolha, que, muitas vezes, é difícil, já que a participação na concorrência do prêmio permite que vivenciem a aplicação da ciência na vida prática, por meio de suas próprias criações.
Da escola para a vida adulta: profissão cientista
Ele resgata uma passagem de sua própria experiência pessoal ao comentar brevemente sobre como escolheu ser físico. Relata que quando era garoto e se encontrava em dúvida sobre qual caminho profissional seguir, seu pai, preocupado com os poucos ganhos que a escolha pela ciência, uma das paixões do filho, poderia acarretar, dizia a ele: "Quem vai te pagar para contar estrelas?". "Meu pai defendia que eu estudasse engenharia, pois afirmava que o Brasil precisa de mais engenheiros'. Em função disso, antes de se tornar um físico, Gleiser cursou engenharia química por dois anos.
"Espero que muitos cheguem a cursos de engenharia, mas que outros - incluindo os que por ventura serão educados nos próximos anos - escolham uma trajetória ligada à ciência básica". Ele acrescenta que por meio do prêmio, o CENPEC, em parceria com a Samsung, está educando os alunos participantes a entenderam como funciona o processo científico.
Em um processo científico o que temos são modelos cada vez melhores para descrever o mundo, e a partir disso criar formas de melhorar a vida dos cidadãos e cidadãs. "No fundo o papel da ciência é tentar criar modos de viver melhor", conforme define. "Seja por meio da cura de doenças ou pela tecnologia que melhora a qualidade de vida das pessoas e, mais importante, qualifica a relação dos seres humanos com o planeta", afirma.
Marcelo Gleiser acredita que os jovens contemplados com o prêmio Respostas para o Amanhã poderão vir a ser os novos "embaixadores do futuro". Pessoas que serão "a voz do amanhã, a voz por um mundo melhor, inclusive, bem melhor do que estamos deixando pra eles". O físico conclui alertando que "temos o dever moral de conscientizar nossos jovens sobre isso e proteger todos os seres vivos da melhor forma possível".
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Sobre Marcelo Gleiser
Físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista brasileiro, atualmente pesquisador da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos. Conhecido nos Estados Unidos por suas aulas e pesquisas científicas, no Brasil é mais popular por suas colunas de divulgação científica no jornal Folha de S.Paulo. É o primeiro latino-americano a ganhar o prêmio Prêmio Templeton 2019, criado em 1972, pela Fundação John Templeton/EUA, e entregue a "uma pessoa viva que, na opinião dos juízes, fez uma contribuição excepcional para a afirmação da dimensão espiritual da vida, seja através de uma introspecção, descoberta ou trabalhos práticos". O anúncio ocorreu no último mês de março e a premiação será realizada em maio, em Nova York.