Em artigo produzido especialmente para a nova seção de Notícias do site do Prêmio Respostas para o Amanhã, o professor Sênior da USP aborda os desafios colocados no mundo hoje, a responsabilidade da escola frente a eles e a contribuição do Prêmio nessa direção
Neste mundo em que qualquer informação sobre fatos ou conceitos pode ser instantaneamente acessada por qualquer um, por meio de sistemas ao seu alcance imediato, onde quer que estejam, escolas que pretendam simplesmente informar já são ultrapassadas e tornam-se mais obsoletas a cada dia. E neste mesmo mundo, em que produtos, serviços e ocupações humanas se transformam tão rapidamente que é já difícil antever até mesmo seu futuro próximo, escolas não podem pretender formar para uma situação conhecida ou imaginada, mas sim para a permanente mudança. Portanto, há que se mudar também a escola.
As transformações são tão surpreendentes que muitas profissões já foram ou estão sendo substituídas por equipamentos robotizados ou por sistemas de processamento de dados, produzindo contraditoriamente mais riqueza e maior desemprego. Enquanto isso, inúmeros profissionais, mesmo trabalhando em diferentes edifícios, cidades ou países, podem estar em permanente intercâmbio para enfrentar uma mesma questão comum a todos, interconectados em rede.
A despeito dessa enorme e inédita disponibilidade de recursos materiais e tecnológicos, talvez em nenhuma outra época o mundo tenha sido desafiado a enfrentar condições tão globalmente adversas de degradação ambiental e de exclusão social e econômica, que impactam diretamente muita gente em condições impróprias de vida e moradia, pela exposição a violências e por exílios econômicos e políticos. Assim, seria importante um esforço coletivo por reunir conhecimentos e potencialidades científico-tecnológicas para enfrentar esses problemas e tornar a vida mais solidária e aprazível. E isso vale para o mundo, como vale também para cada país e comunidade.
Há sinais de que tal consciência já se estabelece entre nós na proposição dos saberes a serem promovidos nas escolas quando, entre as chamadas competências gerais que orientam a nova Base Nacional Comum Curricular, constam, por exemplo, “Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas…”, ou ainda “defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global…”. Ou seja, preconiza-se uma escola em que os estudantes, em lugar de memorizar conhecimentos, façam uso crítico e propositivo desses saberes em questões de seu contexto de vida.
E quando turmas de estudantes de escolas públicas, observando com atitude analítica sua vizinhança social e ambiental, identificam questões relevantes que as sensibilizem e, junto com seus professores, mobilizam saberes científicos e culturais para diagnosticar problemas e elaborar propostas de intervenção, pode-se perceber uma condição em que já estão sendo formuladas respostas para o amanhã pelas escolas e também para as escolas.
Esse é o grande mérito do Prêmio Respostas para o Amanhã, que há alguns anos vem estimulando turmas de alunos e seus professores em escolas públicas de todo o país para um protagonismo social e ambiental que, dando vida real a conhecimentos formais, integra escola e comunidade em uma cidadania ativa, com um trabalho coletivo e comunitário, científico e cultural.
Há ainda uma outras características inovadoras desse prêmio, que o estabelece como paradigma de ação articulada: tem como foco central escolas públicas de todas regiões do país, nos centros e periferias urbanas, em comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas; conta com uma organização educativa do chamado terceiro setor, o CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, que faz a divulgação do programa, a seleção de propostas e a premiação; é financiada por uma empresa de tecnologia de informação, a Samsung, como contrapartida cultural à sociedade que integra seu universo de usuários. A ação concertada desses três partícipes talvez já constitua uma resposta para o amanhã.
LUÍS CARLOS DE MENEZES é Bacharel, mestre e doutor em Física, é professor Sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do Conselho Estadual de Educação em São Paulo. Consultor da UNESCO para propostas curriculares, atuou também como assessor do Ministério da Educação para a elaboração da Base Nacional Curricular.